Os simpósios do VII Jubra reuniram pesquisadores, jovens e ativistas de movimentos sociais para expor e debater temas que variaram de cuidado em saúde de crianças e adolescentes a novas tecnologias e seus impactos.
Saúde mental, uso de drogas e teorias da juventude
Já na segunda-feira (14), no Auditório Rachel de Queiroz, os professores Ricardo Pimentel (UFC), Maria Cristina Vicentin (PUC-SP) e Maristela Moraes (UFCG) refletiram sobre saúde mental e uso de drogas. Para a simposista Maria Cristina Vicentin, a importância de abordar o tema no cenário atual vem do fato de que “a gente tem tido hoje um modelo de atenção pautado pelo proibicionismo, por um controle e não pelo cuidado, um modelo que não reflete a construção de autonomia do jovem”. Ela também fala que essa questão precisa ser abordada pelo Estado de uma forma diferente, uma vez que “o poder público aborda excessivamente o assunto de uma forma bélica e tem sido pouco abordado em uma perspectiva de entrada e se colocar na relação com as necessidades que as pessoas têm”. Carolina dos Reis, participante e professora do curso de Psicologia da UFC, destacou o que a chamou atenção nesse simpósio: “primeiro pela referência dos simposistas e acho que a temática da droga é um dos grandes temas que a psicologia vem sendo convocada a falar sobre”.
Nesta mesma manhã, as “Teorias da Juventude: Para que servem? Onde nos conduzem?” foi o fio condutor para a conversa entre Lúcia Rabello (UFRJ), Heloisa Dias (UNIRIO) e Maria Helena Oliva (USP). Heloisa Dias ressalta que “a única forma de resolver as desigualdades é pelas interações societais. Se nós produzimos as desigualdades, nós podemos resolver as desigualdades”, mostrando como o protagonismo social pode ser a entrada para resolução de questões sociais importantes.
Juventude e novas tecnologias
No turno da tarde, os aspectos éticos, estéticos e políticos dos usos das novas tecnologias de comunicação e informação pelas Juventudes foram discutidos no auditório da Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade da UFC (FEAAC). Dialogando à mesa, as pesquisadoras Rosa Fischer (UFRGS) e Fernanda Bruno (UFRJ), acompanhadas do ativista integrante do projeto Mídia Ninja Pablo Capilé, com mediação da professora Inês Vitorino (UFC).
A tendência à polarização e a intolerância nas interações em espaços virtuais foi ponto de análise de Fernanda Bruno. “A pluralidade é a base humana, o equívoco é fundamental, o desentendimento é necessário”, defendeu a pesquisadora. Em concordância com o exposto por Fernanda Bruno, Rosa Fischer chamou atenção para o fato de que, apesar da internet oferecer múltiplas oportunidades de expressão e ser um canal rápido de informações para uma série de questões, observa-se também a tendência à disseminação de ódio ao diferente. “Estamos vivendo uma exacerbação do individualismo narcísico, da lógica do ‘I, me and myself’. Contraditoriamente a toda uma exposição das diferenças, parece que se reforça exatamente a mesmice, a busca de um outro que seja ‘eu mesmo’, que não se diferencie de mim”, declarou Fischer. A pesquisadora reiterou a necessidade dos jovens poderem pensar sobre os acontecimentos, multiplicando olhares a respeito do que os sucede hoje e depositando um olhar mais pleno de generosidade com o outro, muito mais do que meramente expressar a sua opinião.
Pablo Capilé trouxe a positividade e a força que acredita que exista na juventude, em sua potência e capacidade de ação social. Ao contar a história do Mídia Ninja, falou dos caminhos de um coletivo que nasceu na Universidade e ganhou o Brasil enfrentando desafios e criando seus próprios caminhos através da música, da cultura e da mobilização social: “Aprendemos que podemos gerenciar nosso tempo, podemos fazer o que a gente acredita.”
Juventudes, sexualidade e movimentos sociais
Os simpósios continuaram ainda na terça-feira (15) e abordaram “Juventudes e Movimentos Sociais”, “Juventudes, Gêneros e Sexualidade” e “Juventudes, Espiritualidade e Religiosidade”.
No auditório Valnir Chagas, o debate sobre Juventudes, gênero e sexualidade foi conduzido por Kaciano Gadelha (UFC), Jaileila de Araújo (UFPE) e Cláudia Mayorga (UFMG). Com o auditório lotado e um público bastante receptivo e caloroso, a conversa teve direito até a um trechinho de música da funkeira MC Linn da Quebrada, cuja letra traduz a importância de dar visibilidade à discussão sobre igualdade de gênero e o respeito pelo negros e moradores de comunidades que são marginalizados pela sociedade.
O simpósio sobre Juventudes e movimentos sociais aconteceu no auditório da FEAAC, onde Ana Júlia Ribeiro, estudante do ensino médio do Colégio Estadual Senador Manoel Alencar Guimarães (Curitiba-PR), falou sobre o papel do jovem na história dos movimentos sociais, a violência contra a mulher negra, a criminalização dos grupos sociais e o cenário político atual. “A gente luta pela desmilitarização da polícia. Temos mais medo do que precisamos dela”, diz Ana Júlia.
Durante todo os dias do VII Jubra, os participantes puderam viver experiências, compartilhar histórias e trocar conhecimento, sendo a juventude o centro das rodas de conversas e pautas dos trabalhos apresentados.
Por Cecília Ailana, Calebe Rodrigues e Henrique Mota (texto)